Quando se fala em jogo de poder, política, muitos políticos hoje são induzidos a acreditar que uma vez conseguido determinados estágios e cargos, por mais que não se atinja um determinado objetivo, a desgraça não os atingirá por completo, contando sempre com o fator monetário ou status social, como alicerce para se reerguerem em caso de derrota. Vemos então que, não há hoje, uma preocupação em se construir alianças sólidas, bem “costuradas”, não há em suma uma preocupação com o jogo político em si, substituindo isto com a idéia de quanto se pode ganhar, ou quantos aliados se pode obter por favorecimento monetário.
A preponderância desta forma de atitude e pensamento que vemos hoje, é um dos resultados do final das ideologias, que ocorreu nos anos 90 após a queda do muro de Berlim (que dividiu a Alemanha em Alemanha ocidental e Alemanha Oriental) e o fim da União Soviética. Após este período a atual globalização e o neoliberalismo, criaram uma sensação que o fator monetário e o status social tudo consegue, mas não é bem assim.
No Brasil este fato foi agravado pela pouca noção que nossa população tem de política e nação e de uma formação desde a época do Brasil Colônia de uma sociedade, administrada por particulares (Capitães Donatários), fato este já descrito por frei Vicente de Salvador, primeiro historiador do Brasil, que nos capítulos iniciais de seu livro publicado em 1627, dizia: "ninguém, nenhum homem nesta terra é repúblico, nem cuida e zela do bem comum, mas cada um do seu interesse particular".
O dinheiro sempre foi um fator que predominou em sociedade e, muitos governantes criaram estruturas baseadas nele, ou exércitos mercenários, como no caso de Roma imperial, ou alianças políticas baseadas no fator monetário ou status social do governante que faz referida aliança.
Já no livro que inaugura a ciência política, O Príncipe, Nicolau Maquiavel analisa a questão, sob a ótica de vários príncipes antigos e conclui que as alianças políticas ou poder baseado em prestigio ou fator monetário, são perigosas para a manutenção do poder e os aliados que se conseguem por este meio, são, na hora do perigo, os primeiros a abandonar quem os têm como tais.
Um exemplo de como uma aliança errada pode levar à ruína total de um político ou governante é o caso do Conde Ugolino della Gerardesca (Pisa 1220 – março 1289), Senhor da terça parte do reino Calhiari, na Sardenha, e depois de uma serie de manobras políticas, passando da facção dos gibelinos para os guelfos (duas facções rivais na Toscana da época), se tornou Ditador na Republica de Pisa em 1285. Em 1289, acusado de traição por causa destas alianças que fez, Conde Ugolino, é preso com dois filhos e dois netos e não alimentados morrem de fome na cadeia (pena que lhe impuseram pela acusação de traição a ele atribuída).
Poderíamos citar inúmeros exemplos de erros em alianças que levam à decadência em política, mas o fato é, que ainda hoje, não basta ocupar um cargo e desfrutar dele como se fosse um mero emprego. A política partidária se faz, para se obter o poder e com ele governar uma cidade ou território e iludem-se aqueles que acreditam ir longe com alianças erradas ou o jogo do dinheiro, estes nunca passarão de governos de quinta categoria, depois de algum tempo abandonados, traídos ou esquecidos e que cedem espaço a políticos experientes.
(texto publicado originalmente na revista Ranking Social em junho/julho 2009)